Sim, hoje faz 10 anos do lançamento do primeiro filme de Matrix, que, literalmente, explodiu a cabeça de muitas e muitas pessoas. Mas a primeira coisa que se deve dizer sobre o filme é que ele teve uma inspiração não oficializada em um livro chamado Necromance, onde se encontram todos os personagens principais e mesmo lugares_ como Zion, Matrix, Morpheus, Neo e Trinith_; quem lê fala que é cópia descarada. Assim como quem lê “O Anel de Nibelungo” fala que “Senhor dos Anéis” também é uma cópia descarada deste.
Dado esta pequena introdução, que espero ser motivação mais que suficiente para levá-los a mais essas leituras, só tenho a dizer que este fato não desmerece ou diminui o filme em si, só agrega.
Sempre quis falar da idéia de Matrix, mas sempre deixei para depois por ser complexo e longo, mas 10 anos já é tempo demais. Meu intuito aqui é chamar a atenção para alguns pontos que acho que geram dúvidas e mal-entendidos nos filmes e gostaria de tentar ajudar a outros a entenderem melhor os filmes.
Inteligência Artificial – Esta foi a grande merda e o começo de tudo. Quando o homem cria a IA e a própria IA se melhora e começa a criar uma nova geração ou raça de robôs a coisa pega. Nesse momento pode-se pegar referencia também em outro lugar, como “Ghost in The Shell”, desenho japonês que questiona se um robô pode ter “alma humana”. E é justamente isso que acontece no desenho e em Matrix. Os robôs começam a ter “almas” e não querem ser mortos (substituídos) ou trocados.
Não vou recontar aqui a história que é tão bem descrita no Animatrix, mas para quem não viu fica a dica e a forte recomendação, afinal não assistir implica em não entender algumas coisas que fazem falta.
Uma coisa que fica clara e que vale ser ressaltada porque pode ter passado desapercebida do grande publico é que os humanos fecham um acordo com as máquinas de escravidão_ é a ultima chance para não serem aniquilados… Transformar o corpo humano em fonte de energia das máquinas.
Este é o início real da história, cronologicamente. Depois disso, a IA cria um mundo chamado Matrix, uma realidade virtual onde as mentes das baterias poderiam viver anos a fio. Fica claro que as máquinas não poderiam aproveitar os corpos sem as mentes, “O corpo não vive sem a mente” é uma frase recorrente dentro dos três filmes.
A primeira realidade virtual foi criada para ser o mundo perfeito, onde não existiria dor, nem problemas, mas nela foram colocados os soldados que lutaram contras as máquinas que já conheciam a dor e a tristeza. Eu pessoalmente acho que é por isso que não deu certo.
Como uma mente que já conhece esses conceitos iria aceitar uma realidade onde eles não mais existissem?
Então a Matrix foi recriada como nossa sociedade hoje e acho que isso é um dos grandes atrativos do filme; pensar poder ser real, poder viver esta ilusão foi algo usado por eles de maneira muito inteligente!
As máquinas descobriram que para os seres humanos aceitarem essa realidade virtual eles precisam, nem que fosse num patamar subliminar, poder escolher não participar disso. E foi assim, desta necessidade que nasceu o Oráculo, um programa criado para entender, e ajudar os humanos que não aceitassem a realidade Matrix. A figura do arquiteto já estava ali, desde a tentativa do mundo perfeito, talvez não o mesmo que vemos no filme dois e três afinal, deve ter havido melhoramento e substituição do original.
E assim durante seis “escolhidos” a Matrix foi sobrevivendo, e teoricamente Zion também. Acho que o motivo de só anciões serem do conselho guarda este segredo; só os mais velhos realmente entendiam, tinham a experiência e maturidade para saber, que num mundo sem sol, sem calor, sem nenhuma condição, não seria possível ganhar das máquinas e aniquilá-las, acho que essa é a mensagem final: “não” para a incompreensão e a irracionalidade e um grande “sim” para a Paz e a convivência entre os “diferentes”.
Mas eu acho que as máquinas nunca conseguiam destruir 100% Zion: baratas e seres humanos têm uma grande capacidade de sobreviver, custe o que custar. E esse segredo foi sendo passado pelos membros do conselho na medida em que novos “escolhidos” eram selecionados e depois disseminados pela Matrix.
A trilogia começa então com o sétimo “escolhido” e grandes personagens são mostrados a nós. Eu pessoalmente sou fã do Morpheus, um líder que tem uma crença e está disposto a tudo para conseguir seguir esta crença, abrindo mão do seu grande amor (Niobi), e até mesmo de sua vida para garantir a vida de seu escolhido.
Não posso dizer que não fiquei frustrado com o personagem ter diminuído de importância nos dois filmes seguintes, mas os filmes eram sobre o escolhido e não sobre seu antigo líder, então nada mais natural, à medida em que Neo se torna cada vez mais forte, Morpheus ficar mais nos bastidores.
Existem muitos que buscam verdades escondidas, religião e sabe-se mais lá o que no filme, mas o conceito nele é básico: escolha, livre arbítrio e as consequências que isso implica, simples assim.
Nós, na grande maioria das vezes, não conseguimos ver através das nossas próprias escolhas, isso simplesmente quer dizer que nós não sabemos onde elas podem nos levar. E esse é o grande ponto do filme, nem Neo, nem mesmo a Oráculo sabem se são tão fortes ou capazes de conseguir chegar ao objetivo final, que é a Paz.
A Oráculo é um ponto de sustentação do filme, ela faz quase o papel de um psicólogo com o Neo, deixando ele chegar às suas próprias respostas e conclusões. Mas ela também o direciona e aos outros a cumprirem seus papéis na trama.
Não sinto que preciso falar muito do primeiro filme, todo mundo teve quatro longos anos para rever e sugar tudo do primeiro filme e criar expectativas quanto aos dois seguintes. E nisso também vive a explicação da rejeição deles. Todo o mundo, e posso dizer isso quase literalmente, criou em suas cabeças continuações bem explicadinhas e cheias de conteúdo em suas cabeças.
Quando chega o segundo filme, sem explicar coisas novas, colocando Morpheus meio que na geladeira e deixando mais dúvidas do que explicando, o pessoal pirou, e preferiu esperar uma explicação no terceiro filme a sugar novamente o segundo filme atrás das respostas que tanto se queria.
Mas as respostas estavam lá: como já falei era parte da história Morpheus diminuir, assim como eram precisos adversários à altura das novas habilidades de Neo. E foi este o caminho que a história tomou.
Outro momento importante é o discurso de Morpheus na caverna, ele volta para o papel de líder, mas não mais de uma nave e sim de um exército de resistência. Mas mesmo ele sabe que tudo depende do Neo.
Eu devo ter sido um dos poucos, senão o único, ao final do filme dois a ficar de pé na sala de cinema e aplaudir como louco o “To be Continue…” do final.
Porém, apesar de Neo estar mais forte e mais decidido que no primeiro filme, ele ainda duvidava de si mesmo e principalmente, ele ainda não aprendeu tudo sobre a Matrix.
No Terceiro e último filme depois de muitas explicações dadas pelo desenho Animatrix, está mais fácil entender sobre Zion, as máquinas, “almas” e coisas afins.
Pelo menos para alguns… Foi um grande presente dos irmãos Wachowski, uma tentativa de ajudar as pessoas a entenderem melhor o rumo que eles pretendiam dar ao filme.
Fica claro que Neo, para usar as palavras da Oráculo, novamente tem poderes que se estendem da Matrix até a sua origem, o MainFrame. O lugar físico aonde os IA, que realmente criaram todos os robôs, o arquiteto, os programas e tudo mais, estão realmente.
Não fica claro se é paranormalidade ou se pode até ser que o corpo do Neo seja meio robô, ou tenha algo de robô, mas ele é diferente e isso é ponto fundamental.
Trinith é o ponto humano de Neo, sua ligação com a humanidade, ou melhor, com a sua humanidade. Sem ela, sem o romance entre os dois ele poderia virar um arquiteto ou mesmo um agente Smith. É meio forçada a cena de sexo deles (com a Rave rolando solta na caverna e tudo), mas serve para mostrar essa conexão.
E, por fim, chegamos ao melhor vilão de todos os tempos, um vilão que não está atrás de dinheiro, glória ou qualquer outra coisa, ele está atrás de um propósito. “O propósito de toda vida é acabar!” e, se é assim, que seja ele, Smith, a ser quem vai acabar com toda a vida.
Um vilão à altura do grande herói. Disposto a tudo para atingir sua meta, inclusive se sujeitar a entrar na coisa que ele mais odeia, um cormo humano, tudo para tentar deter seu grande inimigo.
O final não poderia ser diferente, só se deixando contaminar e religando o Agente Smith ao sistema, e diretamente a IA, seria possível destruí-lo; só os programadores originais saberiam como deletá-lo realmente sem afetar os demais programas..
E para terminar: sim, Neo sobrevive! Vocês acham que uma mera nave de carga teria toda aquela luz, aquele poder emanando de si? Ou aquilo é o real escolhido vivo emanando seu poder?
Não cheguei a falar das atuações dos atores, porque para este filme não acho que houve más interpretações. Não consigo, por exemplo, imaginar outra pessoa sem ser Laurence Fishburne conseguindo passar tanta emoção como Morpheus. Nem outro ator sem ser Hugo Weaving para fazer um vilão tão bom como o que interpretou o Agente Smith.